Mayhem - Grand Declaration of War (2000) O black metal é provavelmente o gênero que possui a maior rejeição dentro do metal. Nem o hard rock ou até mesmo o progressivo possuem tantos detratores. Uns simplesmente não gostam do som, outros das produções de baixa qualidade, há quem critique o Corpse paint, o visual carregado e as letras e temas ocultistas. Mas o estilo também tem seguidores ferrenhos, daqueles que só escutam bandas do gênero e que estão prontos para pular no pescoço de qualquer um que tenha opinião contaria a deles. Esses seguidores ferrenhos também torcem o nariz para qualquer coisa que suas bandas preferidas façam e que não se encaixe totalmente no rótulo do estilo. Se o heavy metal já é um mundo no qual mudanças não são muito bem vindas, é no black metal que o extremismo se encontra com maior facilidade. O simples fato de mencionar o nome Grand Declaration of War pode causar náuseas em um fã purista do extremo metal. A carreira do Mayhem sempre foi cercada de polêmicas e controvérsias. Desde a história do bootleg Dawn of the Hearts que mostra uma foto do ex - vocalista Dead (Per Yngve Ohlin) horas após ter cometido suicídio, até o assassinato do guitarrista Euronymous, cometido pelo então baixista Count Grishnackh, hoje também famoso pelo seu projeto. A trajetória da banda passou por altos e baixos. E chega ao ponto de fãs mais fanáticos nem considerarem o grupo atual como Mayhem e se referirem como fãs somente "True Mayhem" dos anos 80 e início dos 90. Lançado em 2000, Grand Declaration of War é apenas o segundo disco de estúdio de um dos pioneiros do gênero, que apareceu para o mundo em 1984. Facilmente, é o álbum mais odiado da banda. Ele não segue uma linha tradicional dentro do estilo e contêm faixas com influências de rock progressivo, avant - garde e até música eletrônica, alêm de vocais limpos, que são usados em praticamente todas as faixas. O disco começa com a faixa que o dá título e que traz elementos tradicionais do Mayhem, com um riff bem construído e pegajoso que aparece em fade in e a bateria em marcha, uma perfeita introdução. Partes faladas se intercalam com as linhas guturais de Maniac e a letra versa sobre uma declaração de guerra, exatamente como diz o título. O álbum forma um conceito, que trata de um mundo destruído em uma guerra pós - apocalíptica e é dividido em duas partes (na verdade três : a primeira se inicia no EP anterior ao disco, Wolf's Lair Abyss, sendo Grand Declaration of War as partes dois e três). A segunda faixa, "In The Lies Where Upon You Lay" já contêm elementos criticados pela maioria de seus detratores, com Maniac travando um dos muitos monólogos do disco, com voz limpa. É uma das minhas preferidas, com tudo muito bem encaixado em um ritmo cadenciado e bem trabalhado. Vocais guturais aparecem em dueto com vocais limpos, dando um contraste muito interessante. "A Time to Die" é uma faixa curta e rápida, ao melhor estilo do Mayhem antigo e é executada com frequência nos shows da banda. A primeira parte de "View From Nihil", inicia com uma marcha na bateria e um discurso de vingança de Maniac, que segue com um instrumental típico do Mayhem e vocais guturais, para cair na segunda parte, onde o discurso termina, com vocais limpos e guturais, para cair na segunda parte, onde o discurso termina, com vocais limpos e guturais sobrepostos na base do riff principal da música. A primeira parte de "A Bloodsword and a Colder Sun" é somente uma introdução sussurrada, que prepara o ouvinte para a subsequente parte, a mais controversa do álbum. "A Bloodsword and a Colder Sun Parte II" é o ápice do experimentalismo no disco, iniciando com batidas eletrônicas quebradas e sussurros. Logo em seguida aparecem teclados e um riff de fundo, que persiste por toda a faixa. No meio da música os vocais ainda tomam efeitos computadorizados, só para a estranheza ficar um pouco maior. É uma faixa totalmente sombria e complexa para o gênero, uma verdadeira ousadia. Ela abre a terceira parte do grande conceito do álbum que é ainda mais abstrata. O clima continua estranho na próxima faixa, "Crystalized Pain in Deconstruction", apesar do seu início aparentar ser mais ortodoxo dentro do gênero. Maniac continua travando monólogos com vocais limpos e em seguida guturais. No meio da música, vocais computadorizados aparecem de novo. O instrumental é mais tradicional, apesar de conter viradas de baterias e riffs que são um tanto avessos ao black metal. Nessa faixa mais escutam - se bem as guitarras sobrepostas, que são uma constante em todo o disco e contribuem signitivamente para manter o conceito e atmosfera do tema aliado às letras das canções. A faixa mais longa do álbum, "Completion in Science of Agony Part II" se inicia bem cadenciada , com riffs marcantes, e é uma espécie de fusão entre black e doom metal. Vocais cheios de efeito aparecem e dão o tom da música. Também aparecem vocais guturais, mas os destaques são o ritmo quebrado da bateria e os riffs de Blasphemer. Há também as participações de Øyvind Hægeland, do Spiral Architech, nos vocais, e de Tore Ylwizaker, do Ulver, na programação. A faixa se torna bem climática do meio para o final, somente com vocais, batidas e teclado ao fundo e volta com um dos poucos solos encontrados no disco, encerrando com Maniac cantando novamente com guturais. "To Daimonion Part II", é pra mim a melhor faixa do disco. Começa com vocais computadorizados e com um riff sensacional e muito grudento. Maniac inicia cantando com voz limpa uma letra muito bem feita e no refrão faz uso de guturais. A bateria também é destaque da faixa; tanto ela como o riff são o carro chefe da canção, que mostra um Mayhem bem rock 'n' roll. No final tudo muda e ela fica mais dramática, tanto no instrumental quanto no vocal, para voltar denovo ao riff principal e terminar com vocais guturais e limpos sobrepostos. A segunda parte inicia com uma citação e a abstração se mostra ao máximo : o resto é um completo silêncio. A terceira parte inclusive, coisa de deixar John Cage com orgulho. No total, são quase cinco minutos de silêncio total, o que dá um baque no ouvido mas descuidado, mas se encaixa totalmente no conceito da faixa e do álbum em si. O disco termina com uma experimental e curta, que começa em fade in somente com o riff de guitarra. Vocais computadorizados aparecem novamente e a bateria dá as caras com batidas bem frenéticas que vão se acalmando e aos poucos tomando uma cadência para acompanhar a guitarra. Existe ainda uma faixa escondida, encontrada antes da primeira música, a faixa título, que é basicamente essa mesma em uma versão mais crua e menos produzida. Há de se destacar a produção do disco, que não tem nada a ver com o que geralmente se escuta e se espera de bandas do black metal. Tudo é muito claro e nítido, nada de bateria e guitarras abafadas, vocais toscos e mal gravados. Está tudo muito bem encaixado e arranjado, mérito da banda e do produtor Børge Finstad. Grand Declaration of War é um disco único, que dificilmente gera opiniões plantadas no meio do termo. Foi calculado e pensado nos seus mínimos detalhes e merece ser escutado e entendido como uma obra completa e não somente por músicas separadas. Uma tentativa, frustrada para muitos, mas bem - sucedida para mim... de colocar uma nova cara e um ar fresco a um gênero cheio de clichês e lugares comuns.

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